sábado, 30 de maio de 2009

Neruda, para sempre Neruda


LXIV

DE TANTO AMOR minha vida se tingiu de violeta
e fui de rumo em rumo como as aves cegas
até chegar a tua janela, amiga minha:
tu sentiste um rumor de coração quebrado

e ali da escuridão me levantei a teu peito,
sem ser e sem saber fui à torre do trigo,
surgi para viver entre tuas mãos,
me levantei do mar a tua alegria.

Ninguém pode contar o que te devo, é lúcido

o que te devo, amor, e é como uma raiz
natal de Araucânia, o que te devo, amada.

É sem dúvida estrelado tudo o que te devo,
o que te devo é como o poço de uma zona silvestre
onde guardou o tempo relâmpagos errantes.

De "Cem sonetos de amor", Pablo Neruda, ISBN 85.254.0638-4 , pg. 75, 1997

terça-feira, 19 de maio de 2009

Vida: Por Desígnio



(...) " um homem honesto,armado com todo o conhecimento disponível agora,poderia afirmar apenas que, em certo sentido, a origem da vida parece ser quase um milagre,tantas são as condições necessárias para iniciá-la." Charles Darwin fez essas observações nos anos 1830. Mais de 100 anos depois , com o benefício de tremendos avanços nos métodos científicos e experimentais, Francis Crick chegou a conclusões semelhantes. (...)


Frase de Francis Crick, co-descobridor da estrutura do DNA.
De : "O Código de Deus", de Gregg Braden, 2003,p56.
Imagem de Fotosearch 028150, Royalty Free.

sábado, 16 de maio de 2009

Searching for the ocean


Coisas imprevisíveis aconteciam a toda hora e Sabrina chegou à conclusão de que precisava aprender a explorar terrenos desconhecidos. Pessoas que faziam parte da sua vida tomavam seu carro emprestado e ela não conseguia dizer-lhes não; às vezes era um professor, outras um grande amigo que poucos anos depois jamais voltou a falar com ela. Outras vezes era sua mãe dirigindo uma Lumina cheia de crianças no colo de suas irmãs ou então seu irmão que pilotava um veículo bastante estranho,cuja funilaria era muito frágil e ele o dirigia ao sabor do vento que uivava para cima e para o alto. Quando então alguém tinha levado seu carro,ela tomava um ônibus urbano para ir à escola e com frequência encontrava um senhor inglês muito distinto,que sorria pra ela sempre do mesmo jeito,mas não lhe dizia nenhuma palavra. Isso aconteceu durante vários anos. Outra vez por pouco Sabrina não entendeu que estava sendo confundida com outra jovem, e se viu à beira de um desmaio,quando um homem bem mais velho do que ela apareceu na cidade , dizia ter-se apaixonado por ela e queira levá-la embora em sua Ferrari! Depois foi a vez do motorista da escola de seus irmãos menores informando que iria levá-los todos para ver polvos do fundo do mar lá no porto na praia dos pescadores , local onde outrora seu avô costumava levar seus netos mais velhos para o mesmo passeio com o mesmo propósito. Numa viagem que fez à Alemanha,Sabrina entra no ônibus para reunir-se ao grupo que acompanhava pois a neve havia transformado seus pés em blocos de gelo,já que ela usava lindos sapatos de couro totalmente inadequados para toda aquela neve! Enquanto massageia os pés na tentativa de reanimá-los,um turista que a havia visto caminhar apressada,adentra o ônibus e lhe pede como souvenir o chapéu cor-de-mel que usava, pois combinava tão bem com seu casaco de lã clara. Quando volta para casa decide comprar um jipe enorme,cujas rodas e pneus eram muito altos,enfim para que ela pudesse explorar terrenos desconhecidos e dirigir ela mesma seu jipe enquanto treinava a lição das aulas de inglês,tal como a história do livro "Searching for the ocean."


De: AT , Minhas Histórias:Coleção Oceano,2008. Todos os direitos reservados.

Os quatro rabinos


"Uma noite quatro rabinos receberam a visita de um anjo que os acordou e os levou para a Sétima Abóbada do Sétimo Céu. Ali eles contemplaram a sagrada Roda de Ezequiel. Em algum ponto da descida do Pardes, Paraíso, para a Terra, um rabino, depois de ver tanto esplendor, enlouqueceu e passou a perambular espumando de raiva até o final dos seus dias. O segundo rabino teve uma atitude extremamente cínica. "Ah, eu só sonhei com a Roda de Ezequiel, só isso. Nada aconteceu de verdade." O terceiro rabino falava incessantemente no que havia visto, demonstrando sua total obsessão. Ele pregava e não parava de falar no projeto da Roda e no que tudo aquilo significava...e dessa forma ele se perdeu e traiu sua fé. O quarto rabino, que era poeta, pegou um papel e uma flauta, sentou-se junto à janela e começou a compor uma canção atrás da outra elogiando a pomba do anoitecer, sua filha no berço e todas as estrelas do céu. E daí em diante ele passou a viver melhor."


De: "Mulheres que correm com os lobos", Clarissa P.Estés, p.49, 1992, Ed. Rocco Ltda. Nota da autora: Numa versão talmúdica dessa história entitulada "Os quatro que entraram no Paraíso", os quatro rabinos entram no Pardes, para estudar os mistérios celestes e três deles enlouquecem de uma forma ou de outra quando põem os olhos na Shekhinah- a antiga divindade feminina. (p. 579)

Foto:http: //images.google.com.br/images?q=sleeping+child+royalty+free+images&sourceid=navclient-ff&rlz=1B3GGGL_pt-BRBR274BR275&um=1&ie=UTF-8&ei=xkIPSq2zA4Sstger0ayACA&sa=X&oi=image_result_group&resnum=1&ct=title

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Princípio do Vácuo



Você tem o hábito de juntar objetos inúteis no momento, acreditando que um dia poderá precisar deles? Você tem o hábito de juntar dinheiro só para não gastá-lo, pois no futuro poderá fazer falta? Você tem o hábito de guardar roupas, sapatos, móveis, utensílios domésticos e outros tipos de objetos que já não usa há um bom tempo? E dentro de você? Você tem o hábito de guardar mágoas, ressentimentos, raiva e medo? Não faça isso. É anti-prosperidade. É preciso criar um espaço, um vazio para que as coisas novas cheguem à sua vida. É preciso eliminar o que é inútil em você e em sua vida para que venha a propseridade. É a força desse vazio que absorverá e atrairá tudo o que você almeja. Enquanto você estiver emocionalmente carregado de coisas velhas e inúteis, não haverá espaço aberto para novas oportunidades. Os bens precisam circular. Limpe as gavetas, os guarda- roupas,o quartinho lá do fundo, a garagem. Dê aquilo que você não usa mais. Venda, troque,movimente e não acumule. Abra espaço para o novo. A atitude de guardar um monte de cpisas inúteis amarra sua vida. Não são os objetos guardados que emperram sua vida, mas a atitude psicológica de guardar. Quando se guarda, considera-se a possibilidade da falta, da carência. É acreditar que amanhã poderá faltar, e você não terá meios de prover suas necessidades. Com essa postura, você está enviando duas mensagens para a vida: primeira,você não confia no amanhã e, segunda,você acredita que o novo e o melhor não são para você, já que se contenta em guardar coisas velhas e inúteis. O princípio de não acreditar que o melhor é para você pode manifestar-se, por exemplo, na conservação de um velho e inútil liquidificador. Esse princípio, expresso através de um objeto, denota um comportamento que pode também estar presente em outras áreas da sua vida, gerando entraves ao sucesso e à prosperidade. O simples fato de dar a alguém o velho liquidificador, colocando-o em circulação, cria um vácuo para que algo melhor ocupe o espaço deixado.


De: Kabbalah Group,2008

Foto:http://www.fotosearch.com/photos-images/old.html, royalty free,2009

Só a fé não basta


"Nunca fique implorando por aquilo que você tem o poder de obter."
Miguel de Cervantes

"Não peça a Deus para guiar seus passos se você não está disposto a mover seus pés."
Anônimo

"Rezar de fato é bom, mas enquanto visita os deuses o homem deve ele mesmo dar uma mãozinha."
Hipócrates

De: Marília Tresca- contadora de histórias

Foto:
Sun - Cloud - Sky (31 High Resolution Royalty Free Photoshop Brushes

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Se tivesse passado minha vida a teu lado II



Quantas vidas esta vida? Longo caminho largo
Curvando-se por vezes, sobre linhas retas que cruzam esquinas,
Indo ver, querendo cheirar, saber onde vai dar
A curva tão curta que a ti me conduziu,
Estendeu-se tão de repente quanto aquele tempo de outono,
Dourado, longe desenhado, tal qual aquarela esfumaçada,
Na memória límpida da vida que não passei ao teu lado.

Não era mais do que menina, desde muito cedo, teu olhar castanho
Buscou-me ligeiro, matreiro, por entre outros,
Tantos outros que buscavam ao redor alguém, tu e eu também,
Alguns poucos, somente alguns, esses que se farão acompanhar,
Toda vez que nova aurora despontar.

Chamo-te, te busco e procuro e sei que estou a me enganar,
O engano acomete o amor descuidado,
E o descuido escolhe um livro rasgado,
Arquivado vocábulo em dicionário vasculhado.

Retrato
da vida se a tivesse passado a teu lado,
Amor que morre tanto quanto vem a dor,
Como o ramo, onde mora a flor,
Azul da perfeita flor, ilusão pormenor desse amor.

Teimo em buscar-te, amor da vida que não viveu a teu lado,
Tu te esqueces que traçaste linhas elípticas,
Cíclicas, ao riscar cantos da vida que para mim planejaste.
Mas tu permaneces promessa, lembrança.

Eu vou arriscando, experimento e vou tentando,
Estudo as horas e vou complicando, buscando,
Adiando a vida para depois de amanhã,
Recomeço a cada alvorecer, avanço o dia de cada noite,
Para ver a porta se abrir e do outro lado ver-te chegar.

De: AT,2007 .Todos os direitos reservados.



Folclore norueguês

Um pai entregou ao filho um pedaço liso de carvalho,dizendo o seguinte: "Esta é sua tábua. Cada vez que você cometer um erro, pregarei nela um prego." Quando o filho completou treze anos,a tábua estava coberta de pregos,alguns enferrujados, outros novos e reluzentes. O pai mostrou a tábua ao flho e disse:"Cada vez que você praticar uma boa ação para corrigir tudo o que fez de errado,arrancarei um prego." Não demorou muito para que o pai arrancasse o último prego e apresentasse ao filho o pedaço limpo de carvalho. No entanto, quando o filho olhou para a tábua, seus olhos se encheram de lágrimas. Ele se voltou para o pai e perguntou:" Mas, pai, e os buracos?" A história termina aqui. No entanto, o pai poderia ter respondido: "São os buracos que tornam bonita a tábua."


De: Marc Gafni, " As marcas da alma"



terça-feira, 12 de maio de 2009

Deus em ação



Ficar em pé quando o vento forte soprar. Manter os olhos enxutos quando a dor nos visitar. Enfrentar o sofrimento com paciência e coragem, não nos deixando arrastar pelo medo, na voragem. Conservar a mente clara no meio da confusão. Não odiar quando a ofensa nos vier em direção. Saber coisas que podiam desmascarar o irmão e poder guardar o silêncio com amor e discrição. Não esperar a vingança, mesmo cheios de razão. Não abandonar a luta, mesmo tombados ao chão. Amar a todos e a tudo sem a nada nos apegarmos. Servindo, sempre servindo, sem nada, nada esperar. Ter equilíbrio perfeito em qualquer situação. Isso é ser realizado. É já ser Deus em ação.

De: Cenyra Pinto,2008
Foto: http://www.fotosearch.com.br/lushpix-illustration/tecnologia-da-nova-era/UNN452/2/,royalty free

sexta-feira, 8 de maio de 2009

O mais lindo presente



Era uma vez uma história real. No tema central da história eu mesma sou a personagem.

Lembro-me bem das várias vezes em que simplesmente perdia objetos de valor. Não que eu fosse descuidada, o que certamente não era, até um dia em que compreendi porque era a vez de a minha mãe perder uma de suas jóias - um broche de ouro e pérolas - que havia reservado para mim.

Perto dos 15 anos perdi um lindo anel de topázio que pertencia a ela; lá pelos 18, um anel com uma pérola bastante grande que também ela havia me cedido para que eu o usasse numa festa. Aquilo começou a me incomodar e ainda perdurou por vários anos.

Aos 25 anos já havia entendido que, desejar jóias e lindas peças que normalmente servem de objetos de desejo às mulheres,de alguma forma não “funcionaria” para mim. Tanto que na minha graduação ganhei como presente de minha avó materna uma pedra ametista que tomava a forma de uma grande lágrima presa por fios de ouro. Meu temor em perdê-la era tão grande que a mantive dentro de sua caixinha durante 21 anos. “Sabia” que se viesse a usá-la pagaria um elevado preço caso a perdesse.

O tempo passou e não me importava com jóias, mas fui gostando de canetas. Claro, breve desejo por canetas foi este, pois perdi as duas primeiras bastante especiais, logo de partida!

Sem jóias e sem canetas bonitas! Aprendi na expressão da canção maior dos meus 20 anos que ” o movimento de que você precisa está nos seus ombros”.

Uma história, uma vida, mais histórias e estórias. Tempo que vai embora e deixa suas marcas impressas no corpo. E faz cicatrizes na alma. Muitos dias em que a vida deixou de fazer qualquer sentido.

Certa vez, quando meu mundo havia desmoronado por inteiro, sonhei com meu amigo Avraham que falecera há alguns anos. Ele havia voltado para “plantar flores cor-de-rosa no meu jardim”. Só um fragmento de sonho desconexo, foi o que pensei.

Ontem foi meu aniversário. Meu mais lindo presente foi ver muitos botões de flores no arbusto de hibiscus ainda jovem – que em maio ainda não havia mostrado suas cores. No inverno eu o podei completamente por causa dos insetos que insistiam em devorá-lo.

Como eu disse, ontem foi meu aniversário. O jovem pé de hibiscus em meu jardim amanheceu carregado de flores cor-de-rosa.

De A.T., 2007. Todos os direitos reservados.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A cama voadora


Angélica morava com seus pais e irmãos e era uma menina que compreendia as coisas como se fosse bem mais velha.

A casa da fazenda era muito grande e havia lugares onde ela podia brincar com suas irmãs e seu irmão mais novo, sem contar um pequeno córrego canalizado pelo pai das crianças que as fazia pensar que fosse um barco,quando se enfileiravam e fingiam que remavam, espalhando água por toda parte.

Havia cinco quartos de dormir na casa da fazenda dois dos quais eram ocupados pelas crianças, o terceiro era dos pais de Angélica e os outros dois eram quartos de hóspedes em geral ocupados pelos familiares que vinham visitá-los de vez em quando.

Às vezes Angélica tinha pesadelos e por isso gostava de ficar perto de sua irmã mais velha para aliviar seu medo. Mas acontece que os outros irmãos também tinham pesadelos e também queriam a irmã mais velha. Acontecia que ninguém mais dormia direito, pois, os três mais novos saíam de suas camas para amontoar-se na cama da irmã protetora, que era muito paciente e cuidava muito bem de todos.

O pai das crianças saía algumas noites para a queimada da cana de açúcar na época que antecedia o replantio. Em geral isso acontecia em julho quando fazia muito frio na fazenda e as noites eram muito escuras.

E era certeza que Angélica tinha um pesadelo toda vez que seu pé ficasse para fora do lençol. Logo em seguida Angélica sonhava que sua cama saía do quarto pela porta da cozinha e voava pelas noites frias por toda parte da fazenda. Voava sobre o pomar, as jabuticabeiras do jardim da ala sul próximo à serraria, passava sobre o “quadrado”- uma grande área de pérgolas onde cresciam buganvílias brancas e lilás, cor-de-rosa e vermelhas, sobre uma longa extensão de gramado e quando aumentava o frio, a cama sobrevoava a queimada no canavial.

Angélica não conseguia encontrar seu pai e, quando estava prestes a desistir, sentia que um cobertor quentinho vinha salvá-la daqueles passeios malucos com sua cama voadora no meio da noite fria!

De: A.T., 2007, todos os direitos reservados.

Foto: http://www.fotosearch.com/PHD135/19164/, royalty free

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Iogurte com pepinos


Angélica voltou à sua cidade natal e caminhava pelas ruas com sua mãe, quando passam por uma loja que vendia sapatos usados. Muitos sapatos eram expostos nas vitrines e Angélica ficava inconformada ao vê-los sujos e velhos e se perguntava quem poderia querer comprar sapatos naquele estado.

Seguindo seu caminho esquecendo-se dos sapatos velhos, chama-lhes atenção uma casa muito grande onde salas de visita muito amplas compunham vários ambientes cheios de luminosidade; sofás, poltronas e muitas almofadas coloridas os decoravam, com graça e muito conforto. Tudo era claro e repleto de cores vivas e estampadas de vermelho, verde limão e branco. A mãe de Angélica lhe diz que essas cores deveriam ajudá-la a equilibrar as cores para a decoração de sua própria casa nova, ao que Angélica não dá ouvidos e as duas retomam o passeio a pé pelas ruas.

Depois elas se vêem diante da construção arquitetônica do final do século XIX onde Angélica e toda sua família tinham passado os primeiros anos escolares, entre pátios iluminados e largos e longas escadarias que lhes davam acesso como se através delas as portas do mundo se abrissem de volta ao passado. As salas de aula haviam sido reconstituídas, porém, mantendo em detalhes os afrescos daquele tempo cada vez mais distante. Não se pode afirmar qual das duas mulheres parecia inspirar mais profundamente as memórias que brotavam daquele maravilhoso lugar.

Então, seguem para o antigo bairro dos ingleses onde as ruas e as casas eram estreitas, porém as casas eram altas e revestidas de tijolos à vista, com poucas cores vivas, bem cuidadas e com aspecto muito requintado. As duas decidem parar numa doceira para comer torta de chocolate com avelãs e provar chá de ervas aromáticas indianas quando encontram uma amiga da mãe de Angélica.

A senhora começa a falar e falar e falar e diz a Angélica que não deveria reclamar por ser obrigada a comer iogurte com pepinos!

De: AT, 2007. Todos os direitos reservados.

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domingo, 3 de maio de 2009

O encontro


Angélica se preparava para um grande encontro pois iria rever o homem que mais amara na vida depois de passados cinco anos sem que a vida lhes tivesse dado permissão para viver juntos.

Eles deveriam encontrar-se numa pequena cidade na costa marítima e ela viajou num avião bimotor que a conduziu a esse local, mais uma aldeia freqüentada em sua maioria por turistas estrangeiros, do que propriamente uma cidade. Ali chegando, ela alugaria um carro e iria até a ponta da grande montanha, onde havia uma pousada aconchegante que permitia avistar tanto a pequena praia abaixo, mesmo estreita que era, quanto a imensidão do mar que se abria por entre o arco desenhado pelas montanhas, sobre as quais a grande montanha reinava silenciosamente. Este era o ponto de encontro entre eles.

Angélica se vê sozinha ao descer do pequeno avião. De repente ela está num lugar que parece um deserto e apenas alguns operários trabalhavam no local. Percebe que o local era fim de linha e Angélica se pergunta onde teria errado em seu trajeto, pois não era o lugar onde havia estado outras vezes e não sabia que lugar era aquele. "Aqui havia uma estrada moderna e eu já passei muitas vezes por essa estrada: o que houve agora que a estrada não está mais aqui? " - pergunta-se, sem compreender o que se passara. Inútil fazer perguntas já que os trabalhadores vão-se embora, antes mesmo de Angélica olhar para trás.

Havia pedras e a paisagem era primitiva, tal qual um deserto que nunca houvera sido explorado. A vegetação era rara e mal podia ser encontrada ao longo de toda a área praticamente toda coberta de areia. Supostamente seu amado deveria estar esperando por ela, conforme combinaram, atrás da grande montanha que ficava do outro lado, subindo a serra além desse local – mas não havia como chegar lá!

Angélica se dá conta de que era certo que se perdera em algum ponto do caminho e, cansada de perguntar ao vazio, onde estou?...que lugar é esse?...por que não há mais a estrada que havia aqui por onde dirigi tantas vezes? Então, Angélica começa a caminhar pelo terreno árido, quase sem vida quando vê um pedaço de jornal velho pelo chão; ela se abaixa para pegá-lo e lê: 1957 !!! Angélica fica mais assustada ainda e começa a chorar desesperadamente e pergunta-se, será que viajei no tempo?...voltei ao passado? por que encontro um jornal de 50 anos atrás?..onde estão as pessoas?...onde está meu amigo ?

A perspectiva que Angélica tinha de chegar para seu encontro se esvai completamente e ela não consegue parar de chorar. Quando se acalma olha ao seu redor e para sua surpresa vê que atrás da grande montanha, o sol brilhava...

De: AT, 2007. Todos os direitos reservados.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Uma história de amor






Os bisavós de Angélica vieram da Itália nos últimos anos do século XIX. Ana, a bisavó, havia nascido em Palermo na Sicília, enquanto que o bisavô vinha de uma pequena província em Treviso na região do Veneto, ao norte da Itália. Eles se casaram e tiveram muitos filhos até que um dia o patriarca viajou de volta para seu país, onde deveria permanecer por cerca de três meses.

Passou um mês, outro e mais um, e o bisavô de Angélica não voltara. Passaram-se anos e ninguém soube o que havia acontecido a ele.

Ana tinha o dom de costurar e se tornou uma grande modista. Os quatro filhos tornaram-se ricos fazendeiros, enquanto que as filhas aprendiam com ela a arte de costurar e bordar.

Ana já não precisava preocupar-se com o sustento dos filhos e também gostava muito de números e de escrever poemas.

Numa tarde de outono, Ana caminhava pelo jardim que construíra em sua casa para reproduzir imagens e lembranças da casa de seus pais em Palermo. A varanda da casa fazia-se abrir por portas altas de madeira rústica e belos arcos espaçados avançavam pelos jardins e se ouvia o ruído das águas da fonte cristalina que conduzia a outro jardim, mas abaixo, onde se dispunham vasos de barro em que Ana plantara folhagens e flores muito coloridas.

Ana pensava em seus poemas e no homem que amara durante toda sua vida, quando olha na direção do portão principal da propriedade e vê um homem alto e forte que vestia uma jaqueta de couro e acenava para ela.

Pouco tempo depois, Ana encontra-se frente a frente com este homem, cujo rosto era desenhado por profundas rugas, mas cujo corpo se mantinha incrivelmente mais jovem. Ele não fala nada enquanto Ana lê para ele os poemas que escrevera porque nunca se cansara de esperar por aquele momento.

A essa altura, os olhos de Angélica se enchiam de lágrimas, enquanto a avozinha terminava dizendo que foram muito felizes por mais alguns anos e que seu bisavô jamais havia se esquecido daqueles a quem tanto amava.


De : A.T., 2007. Todos os direitos reservados.
Foto: http://www.fotosearch.com/, royalty free

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